A Rede Lucy Montoro promoveu nesta semana a segunda edição do Encontro de Reabilitação, com palestras, aulas práticas e participação de pacientes, ex-pacientes e familiares. A programação faz parte dos eventos simultâneos sobre inclusão e deficiência promovidos pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, realizados em São Paulo até amanhã.
Pacientes, ex-pacientes, familiares e profissionais de saúde compartilham suas trajetórias e conhecimentos em encontro promovido pela instituição
O Simpósio Lutos e Lutas em Programas de Reabilitação tratou, na segunda-feira, 6, de luto não
reconhecido na reabilitação, desenvolvimento da imagem corporal da criança com deficiência x escalas/ferramentas psicológicas, neuropsicologia e emoção, contingências em situação de crise psicológica, reabilitação profissional e inclusão, resiliência, avaliação psicológica e intervenções em pacientes internados, orientação e aconselhamento aos familiares e cuidadores.
Técnica – Na terça-feira, 7, o evento celebrou 100 anos de terapia ocupacional no mundo e
discutiu questões importantes e atuais, como a atuação na síndrome congênita do zika vírus, com a equipe multidisciplinar do Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), de Ribeirão Preto.
O médico fisiatra André Sugawara, do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do HC-MUSP
– Rede de Reabilitação Lucy Montoro (IMREA), falou sobre o papel da instituição como centro colaborador de Organização Mundial da Saúde para Reabilitação e a Global Cooperation for Assistive Technology. Sugawara ressaltou os cuidados que médicos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais devem ter ao prescrever equipamentos, ao revelar dados sobre a reabilitação: “Hoje somente uma a cada dez pessoas tem acesso aos equipamentos. É extremamente excludente”.
A taxa de abandono dos equipamentos no Brasil chega a 53%. Para o médico, o abandono ocorre por diversas razões, como falta de adequação, de orientação e por medidas inadequadas. “Às vezes cobramos que os pacientes utilizem as órteses, mas eles não usam. Precisamos criar um modelo de paciente centrado, escutar o que ele está falando, ter empatia, solucionar os problemas e não ficar preso somente ao que diz os livros. Talvez os livros não vejam a realidade das pessoas”, afirma o fisiatra.
Ontem, 8, novas alternativas em estimulação elétrica funcional em reabilitação foram apresentadas pela médica e professora da Faculdade de Medicina da USP Marta Imamura. “Infelizmente no Brasil a reabilitação muitas vezes não é iniciada no dia zero da lesão. Nosso intuito é uma saúde melhor”, afirma a médica. Na sequência, os fisioterapeutas Daniela Utiyama e Jober Ribeiro Paz fizeram uma demonstração prática da aplicação da técnica.
Ganhos – Pacientes, ex-pacientes e familiares participaram de encontro promovido pela Rede Lucy Montoro. Especialistas trataram de temas como os riscos de não tratar a deficiência, mudanças no corpo, alterações nos relacionamentos, acessibilidade na comunidade, tecnologias e seus usos, papel dos cuidadores e lazer.
A médica fisiatra da Rede Lucy Montoro, Karen Guerrini, elencou os possíveis ganhos com o tratamento adequado de reabilitação: “Qualidade de vida nem sempre é colocar uma prótese. Queremos que os pacientes vejam que há muitas possibilidades”.
Aline Rossetti Mirisola, também fisiatra da rede, explicou como funcionam as áreas do cérebro e da medula para os pacientes: “Uma lesão nunca é igual para duas pessoas. Depende do local e de fatores individuais. De acordo com o pedacinho que é lesionado, a consequência é diferente.
Às vezes uma lesão pequena tem consequências maiores do que uma lesão grande em outra área”, exemplifica.
Superação – Can Robert contou aos convidados um pouco de sua história. Paciente do serviço há 40 anos, quando a instituição ainda nem se chamava Rede Lucy Montoro, ele chegou a São Paulo depois se machucar, aos 16 anos de idade, durante um mergulho na piscina do clube onde praticava natação. O seu corpo colidiu com um colega e lesionou duas vértebras, ficando paraplégico imediatamente. “Fiquei internado no Hospital das Clínicas de janeiro a dezembro
de 1973. Os médicos disseram que eu ficaria para sempre na cama. Para algumas pessoas pode desanimar. Para mim, serviu como um desafio”, relembra.
“A vida coloca obstáculos e precisamos ter os pés no chão e a consciência de que estamos nos experimentando a todo momento, seja com deficiência física, visual, auditiva, sem nenhuma dificuldade neurológica e física. Antes do acidente, eu tinha os desafios do treino de natação.
Todo exercício e empenho que você vai ter na deficiência é para superar seus limites do momento. Se você não tentar, não consegue”, aconselhou Can Robert.
Regina Amábile
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
DOE – Seção I, p. III