Uma pesquisa realizada com amostras de castanha-do-pará no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas, detectou a presença do fungo Penicillium excelsum, que revela potencial para ser utilizado na fabricação de antimicóticos – medicamentos de combate a infecções causadas por alguns micro-organismos. O fungo pertence ao mesmo gênero que originou a penicilina, descoberta em 1928 pelo médico escocês Alexander Fleming, até hoje considerada uma das substâncias mais importantes na preservação de vidas.
O trabalho é conduzido pela bióloga e pesquisadora científica Marta Hiromi Taniwaki, no laboratório de microbiologia do Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos do Ital, entidade vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.
Marta trabalha na identificação de fungos e substâncias chamadas toxinas da castanha; essa espécie de Penicillium não havia sido descrita até então. Existem no mundo aproximadamente 350 espécies de Peniccillium conhecidas. A que foi descoberta por Fleming é a Notatum. Marta publicou seus estudos, em inglês, na revista científica internacional Plos one, em dezembro último (ver serviço). “Mas continuo fazendo minhas pesquisas com as castanhas”, ressalva.
O fungo recém-descoberto, informa a pesquisadora, está presente em todo o ecossistema das castanheiras na região Amazônica, para onde a bióloga fez inúmeras viagens em busca das sementes e para saber como são colhidas. “Conheci também as pessoas que trabalham no ramo, ainda de maneira extrativista.”
Seu estudo recebeu o apoio do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC).
Abelhas – Além das castanhas, o Penicillium também é encontrado nas folhas da castanheira, cascas da semente, nas flores e no solo próximo da árvore, que pode atingir até 60 metros de altura e viver por quase 500 anos. A produção de castanhas tem início após 12 anos do plantio. “Encontramos o fungo até mesmo nas abelhas que polinizam a flor da planta e também nas formigas que vivem na árvore”, observa a pesquisadora.
A formação das substâncias, chamadas toxinas, pelos fungos nas castanhas, se deve às condições de umidade na floresta e ao tempo de estocagem até as sementes atingirem um nível seguro de umidade. Castanhas que são logo secas à temperatura de 60ºC e mantidas em estoques apropriados apresentam menos fungos e menor possibilidade de conter toxinas.
Marta observa que os fungos pertencentes ao ecossistema amazônico são pouco descritos na literatura científica mundial. Ela calcula que somente 5% desses micro-organismos foram estudados até agora, sobretudo por pesquisadores estrangeiros.
Referência – O Ital realiza atividades de pesquisa, desenvolvimento, assistência tecnológica, inovação e difusão do conhecimento nas áreas de embalagem e de transformação, conservação e segurança de alimentos e bebidas. Nos seus centros de tecnologia e pesquisa, destacam-se os estudos de carnes, cereais e chocolates, laticínios, frutas e hortaliças e o desenvolvimento de novas embalagens. Fundado em 1963, o instituto é referência no seu setor de atuação e recebe visitas de pesquisadores do mundo todo.
DOE, Executivo I, 20/07/2016, p. II