O interesse em conciliar a pesquisa relacionada à menopausa e à perda de estrogênio que ela causa com o interesse pessoal pela dermocosmética levou a biomédica Bianca Stocco a desenvolver um gel à base de extrato de soja que estimula a produção de colágeno na pele.
A fórmula é resultado dos estudos realizados por Bianca no laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP em seu doutorado, sob orientação da professora Maria Regina Torqueti e co-orientação de Maria José Fonseca. “Eu tomei conhecimento de estudos que revelavam uma grande queda de colágeno na pele por causa da perda de estrogênio motivada pela menopausa”, assinala a doutoranda.
O colágeno, proteína responsável pela qualidade estrutural e elástica da pele, diminui em até 30% nos primeiros cinco anos da menopausa. A pesquisadora partiu, então, de um estudo de Maria Regina, que avaliou o uso de extrato de soja para combater células de câncer de mama, em busca de uma fórmula capaz de estimular a produção dessa proteína.
“A professora já tinha desenvolvido um tipo de extrato de soja enriquecido com as isoflavonas daidzeína e genisteína, que possuem estrutura e função semelhantes ao do hormônio estrogênio. E sabiamos que esse extrato tinha um potencial antioxidante”, explica Bianca. De acordo com ela, existem no mercado muitos cosméticos à base de soja, mas nenhum com a propriedade de estimular a produção de colágeno.
O projeto enviado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que aprovou o financiamento do trabalho, foi embasado nesse potencial e na observação de que a genisteína, principalmente, possui grande capacidade de interagir com receptores de estrógeno presentes na pele.
Simples e barata – Depois de anos de testes, realizados com camundongos e depois em culturas de fibroblastos (células de tecido conjuntivo que sintetizam o colágeno e a elastina da pele), o estudo chegou a uma fórmula de extrato de soja rico em isoflavonas realmente capaz de estimular a produção do colágeno.
Os experimentos abrangeram a avaliação de diferentes extratos biotransformados e a identificação daquele com maior concentração das isoflavonas. Ao gel, que foi escolhido como o melhor veículo para a fórmula (entre o creme e o gel-creme), foram adicionados 3% do produto. “Identificamos essa concentração de extrato biotransformado como a ideal para o resultado esperado. Concentrações maiores ou menores não foram capazes de promover o estímulo, demonstrando que ele está vinculado a uma dose específica”, esclarece a pesquisadora.
Durante o processo, as análises para verificação da permeação do produto na corrente sanguínea e de sua retenção na pele tiveram enfoque especial. O gel foi o meio escolhido justamente por não apresentar toxicidade, ou seja, não permite que a substância entre em contato com o sangue, nem a retenção em quantidade insuficiente.
A fórmula teve o depósito de patente realizado pela Agência de Inovação da USP e encontra-se em fase de transferência de tecnologia, informa Bianca. Ela também tem a expectativa de que a formulação, por ser simples e barata e, ainda, pelo potencial de recuperação da pele em termos estéticos e funcionais, possa ser aproveitada pela indústria de forma promissora.
DOE, Executivo I, 06/09/2016, p. II