Sala São Paulo alia técnica, história e beleza

Trem, café, desenvolvimento, transformação, arte, música. A história por trás do edifício que se tornou, em 1999, a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) – e incluída entre as dez melhores do mundo –, é rica em elementos. “Além de importante patrimônio histórico, é uma sala especial. Por isso, não podia ficar fechada ao público”, afirma a historiadora Renata Lípia, responsável pela visita monitorada da Sala São Paulo.

Inaugurado em 1938, depois de 12 anos de iniciada a construção, o prédio foi projetado em 1925 por Cristiano das Neves para abrigar a sede da Estrada de Ferro Sorocabana e ser um marco da riqueza do café.

“Alguém imagina uma estação de trem com toda essa imponência?”, questiona o monitor Victor Oliveira, enquanto guia um grupo pelos principais salões do local. Em 50 minutos, são apresentados, além de aspectos vinculados à história da edificação, seus elementos arquitetônicos e técnicos.

Curiosidade – Realizada desde 2001, a visita monitorada ocorre diariamente, em dois horários (às 13 horas e às 16 horas), com limite de 80 pessoas (40 por monitor). “Recebemos cerca de 10 mil visitantes por ano nesses horários predefinidos, porque o serviço coexiste com várias atividades”, explica Renata. Ela explica: “Nesse exato momento, estão acontecendo os ensaios do coro acadêmico, do coro infantil”.

O atendimento é destinado ao público em geral (a partir dos 6 anos de idade) e o conteúdo pode ser adaptado ao perfil de um determinado grupo. “Para as crianças, por exemplo, a linguagem é mais lúdica.” Há ainda a visita bilíngue, que pode ser em inglês e espanhol, e a visita técnica, oferecida às pessoas interessadas em conhecer de modo mais aprofundado os recursos técnicos da sala. “Por ser um projeto notório, considerado de excelência, provoca muita curiosidade”, conta Renata.

Nos seus nove anos de experiência na atividade, a historiadora, hoje supervisora do núcleo de educação patrimonial, tem percebido que a visita à sala de concertos é motivo de emoção para muitos. “Leva alguns às lágrimas.”

Salão ideal – Durante o percurso, o monitor chama a atenção para as referências ao café na estrutura dos salões, entre as quais o piso original de ladrilho português no formato da flor do fruto e as imagens presentes nos vitrais do Salão das Artes.

Explica ainda que, em função da demora da obra e da crise econômica mundial de 1929, o prédio não foi concluído conforme o projeto. “Estava previsto um grande teto de vidro para o salão central, que ficou aberto. Acabou sendo criado um jardim de inverno no local”, revela Oliveira ao grupo de cerca de 20 pessoas, a maioria estudantes de arquitetura.

É o caso dos colegas Raphael Bausch e Bárbara Pacis, ambos com 22 anos e no 3º ano do curso na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Eles vieram a São Paulo para conhecer um pouco da arquitetura local. No ponto máximo do passeio, a sala de espetáculos, eles se mostram bastante impressionados.

“É muito legal ver que um projeto antigo foi transformado nesse, supermoderno, cheio de recursos acústicos. Dá muita curiosidade de assistir a um concerto”, diz Bausch. “Acho que estou com mais vontade disso do que de olhar a arquitetura”, diverte-se Bárbara.

O monitor revela detalhes. “Quando resolveram reformar o prédio para ser a sede da Sala São Paulo, foi constatado que ele tinha dois salões com dimensões adequadas para receber concertos. Esse era um deles, e, por estar mais afastado da estação e não ter cobertura, foi considerado o ideal”, conta Oliveira.

Inspiração – A escolha rendeu uma das melhores salas de concerto do mundo. Seu forro móvel, composto de 15 painéis independentes no teto, permite a alteração do volume acústico interno, com ajustes adequados para cada apresentação. “Vim à visita especialmente para saber mais sobre o funcionamento do teto”, comenta a também estudante de arquitetura Mirian Huck, de São José dos Campos. Ela e a amiga Jussara Oliveira estão preparando o projeto de um auditório de música para a faculdade e resolveram buscar inspiração na ‘casa da Osesp’.

“Achei excelente o conteúdo do serviço, deu para agregar bastante”, considera. “Eu não conhecia, fiquei encantada com a acústica”, afirma Jussara, que assistiu pela primeira vez a um concerto no local na noite anterior.

DOE, Executivo I, 17/06/2015, p. I