Ser professor: mais do que profissão é motivo de orgulho, é pura vocação

Eu não escolhi ser professora, a vida escolheu por mim”, filosofa Elaine Carapiá, de 30 anos, ao tentar definir o que a levou a sentir- se realizada na sala de aula. “Quando percebi, estava encantada pelo processo de construção do conhecimento, da assimilação, acabei me apaixonando”, explica.

Professora de referência do 3º ano na Escola Estadual Professora Irene Ribeiro, na Vila Carrão, zona leste da capital, desde o ano passado, ela leciona há oito anos na rede pública do Estado. Iniciou logo após terminar o curso de Licenciatura, para o qual ganhou uma bolsa de estudos. “Como sempre gostei de cuidar das pessoas, ia prestar vestibular para fisioterapia, mas surgiu a oportunidade de estudar para ser professora e acabei optando por isso”, lembra.

“Não poderia ter ocorrido algo melhor”, ressalta a diretora da EE Irene Ribeiro, Elisabete Polidoro, que é só elogios para a companheira de trabalho. “Ela tem um jeito especial, é muito comprometida, e olha que, aqui, a equipe toda é boa e dedicada”, afirma, com orgulho. Logo em seguida, aproveita para falar, também, da vocação privilegiada para o ensino de Tatiana Nakamoto, 38 anos, professora de artes.

Aprendizado – Foi na unidade que Tatiana estreou com crianças, uma vez que sua experiência, até então (ingressou na mesma época que Elaine), havia sido com educação de jovens do ensino médio em espaços culturais e museus. Antes, atuou por oito anos como designer, sua primeira formação.

“Fiquei com medo de não saber lidar com os pequenos, mas sou movida a desafios e estudei bastante a fim de me integrar melhor a esse universo. Fiquei fascinada, dar aulas para crianças é aprender com eles”, conta a professora, que cursou licenciatura em educação artística para compartilhar seus aprendizados. “Gosto muito de fazer cursos, aprender, passei a querer ensinar também”, diz ela.

Mais do que o gosto pela profissão, as duas nutrem verdadeiro orgulho pelo ofício, que defendem com unhas e dentes. “Tem de gostar, quem gosta não vê dificuldades, pois o conhecimento está em tudo. Basta dar uma volta no quarteirão e você ensina geografia, matemática, o que quiser, desperta a curiosidade dos alunos. Isso é ser professor de verdade”, avalia Elaine. “Todas as profissões precisam do professor, passam por ele”, complementa.

Autonomia – Para Tatiana, a educação depende principalmente de quem ensina, e o que atrapalha, muitas vezes, é o profissional não se preparar, pesquisar e buscar o aprimoramento do trabalho. No entanto, na EE Irene Ribeiro, que desenvolve Programa de Ensino Integral (PEI) para o ensino fundamental I, as condições são propícias para que as professoras se sintam estimuladas cada vez mais.

“Aqui, trabalhamos com projetos e uma equipe integrada. No fim do ano, todos juntos comemoramos o produto final. Existe autonomia de trabalho e colaboração”, explica a vice-diretora Karla Bauab. Com isso, as diretrizes do PEI tornaram-se terreno fértil para a atuação de profissionais como Elaine e Tatiana, o que acabou rendendo a elas um reconhecimento que ultrapassa o ambiente escolar.

Iniciativa recente nas escolas de tempo integral de 1º a 5º ano, a disciplina de educação socioemocional – que reúne dinâmicas e brincadeiras que estimulam a boa convivência com a diversidade, respeito ao próximo, reconhecimento das potencialidades e também for – mas de lidar com sensações de estresse, frustração, alegria, entre outros –, já se tornou uma especialidade de Elaine.

Formação – “Sua fama se espalhou e vem gente de todo canto, até dos Estados Unidos, assistir às aulas dela”, conta a diretora. “Um dia, veio a Maitê Proença”, lembra, explicando que a atriz desenvolve atividades educacionais e ficou interessada. A professora também foi convidada a dar depoimento em vídeo para a campanha #SouProfessor: Vista essa camisa!, do Instituto Península, que tem como uma de suas causas a formação (ver serviço).

Na gravação, Elaine fala sobre a profissão e também desenvolve seu trabalho com as crianças. “Fico feliz por ter o que oferecer”, afirma. Tatiana, por sua vez, foi premiada na 17ª edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã, realizado pelo Instituto Arte na Escola desde o ano 2000 e que busca identificar, reconhecer e divulgar projetos exemplares na área de arte em sala de aula (ver serviço).

O projeto Em Busca da Felicidade, que elaborou e desenvolveu com os alunos durante o ano passado, ficou em primeiro lugar na categoria Ensino Fundamental I. “Eu não queria me inscrever, mas fui incentivada pela Elisabete. Fiquei muito surpresa com o resultado”, conta.

Segundo ela, o trabalho foi criado obedecendo à temática de base das atividades da escola em 2015, ‘o circo’, e abrangeu a participação de vários professores e de todos os alunos da unidade. “Tivemos pesquisa sobre o tema, dobraduras, sessão de vídeo, teatro de sombra e expressão corporal, entre outras coisas. Foi uma ação coletiva e muito ampla. Esse prêmio é de todos”, finaliza.

DOE, Executivo I, 15/10/2016, p. I